"Morre lentamente quem não troca o certo pelo incerto em busca de um sonho"
(Pablo Neruda)
O que me inquieta é este chão da alma, que já não é seguro; o que resta de todo o calor que existia em cada noite das nossas vidas?
Os serões em que éramos cúmplices até o amanhecer.
Até te entreguei a alma, quando me deste o sopro que acalmou o meu coração.
Esperei tudo o que tinhas para dar, de peito aberto e, deixei que fosses o meu único caminho e eu a tua pele.
Vários dias me senti - sozinha - e isso permaneceu na memória do meu coração.
Mais tarde, pude entender, que nada se esquece, nada se perdoa, nada desaparece.
Por mais vontade que o meu abraço tivesse de te abarcar em mim.
Por mais sonhos que eu quisesse manter na realidade.
Por mais amor que eu quisesse ter, por ti, alma gémea...
sabia, raios.. como eu sentia que se tinha quebrado tudo.
Não tenho emergências de novos passos, de novos carinhos, de novos sonhos.
Quero acalmar e sentar-me um pouco aqui, a admirar o abrigo que construi e saber que posso contar comigo.
Enquanto escurece, o brilho do mundo cintila em mim.
Enquanto tu sentes que se quebrou o laço do amor, eu estarei aqui, até a memória se apagar.
Que revolta esta, de perder sonhos, que alimentei com a minha alma, durante anos.
Sonhos que vivi e (re)vivi.
Por vezes só,
outras, a teu lado.
Este é o lado incerto da vida, dos sonhos, do amor e de toda esta esperança que nutre esta dor.
Queria abrir o meu coração e apagar as palavras rasgadas em pedaços de nada. Dar os meus sentidos em troca de ser feliz.
Não preciso de razões para te apagar, nem desta loucura que gera o medo que nos faz recuar.
Quero o amor que acaba com a injecção letal mas indolor.
O que renasce não nos fará acordar. Medo. Medo do chão que não cabe mais no coração.
Lado incerto que trará o reverso da tempestade. O sonho. O certo. O correcto.
Ou,
apenas outra visão.
Esperei-te no banco daquele jardim, com o mesmo quadro na parece, repleto de verde das árvores e amarelo da luz do sol.
E tinha tons azuis.
Pois tinha.
Sim tinha.
Tons que se reflectiam no nosso rosto; era o céu no seu esplendor.
Sorri quando te vi, porque me fizeste sentir num lugar que seria um pequeno abrigo, onde eu poderia relembrar sempre aquele dia tão apressado, mas com o futuro nos horizontes.
Toquei-te... na alma, ao mesmo tempo que te aproximavas com o teu abraço.
Cá dentro surgiu o calor que arrancou parte da minha armadura. Confortaste os sentidos no reflexo dos sinais, que nos indicavam o livro do incerto que começaríamos a escrever.
Já rasguei algumas folhas deste romance,
simplesmente porque doía quando me dedicava à sua leitura.
Hoje deixei de lado velhas histórias.
Não quero ler mais.