28 de janeiro de 2011

23 de janeiro de 2011

O lado incerto da vida


"Morre lentamente quem não troca o certo pelo incerto em busca de um sonho"
(Pablo Neruda)
O que me inquieta é este chão da alma, que já não é seguro; o que resta de todo o calor que existia em cada noite das nossas vidas?
Os serões em que éramos cúmplices até o amanhecer.
Até te entreguei a alma, quando me deste o sopro que acalmou o meu coração.
Esperei tudo o que tinhas para dar, de peito aberto e, deixei que fosses o meu único caminho e eu a tua pele.
Vários dias me senti - sozinha - e isso permaneceu na memória do meu coração.
Mais tarde, pude entender, que nada se esquece, nada se perdoa, nada desaparece.
Por mais vontade que o meu abraço tivesse de te abarcar em mim.
Por mais sonhos que eu quisesse manter na realidade.
Por mais amor que eu quisesse ter, por ti, alma gémea...
sabia, raios.. como eu sentia que se tinha quebrado tudo.
Não tenho emergências de novos passos, de novos carinhos, de novos sonhos.
Quero acalmar e sentar-me um pouco aqui, a admirar o abrigo que construi e saber que posso contar comigo.
Enquanto escurece, o brilho do mundo cintila em mim.
Enquanto tu sentes que se quebrou o laço do amor, eu estarei aqui, até a memória se apagar.
Que revolta esta, de perder sonhos, que alimentei com a minha alma, durante anos.
Sonhos que vivi e (re)vivi.
Por vezes só,
outras, a teu lado.
Este é o lado incerto da vida, dos sonhos, do amor e de toda esta esperança que nutre esta dor.
Queria abrir o meu coração e apagar as palavras rasgadas em pedaços de nada. Dar os meus sentidos em troca de ser feliz.
Não preciso de razões para te apagar, nem desta loucura que gera o medo que nos faz recuar.
Quero o amor que acaba com a injecção letal mas indolor.
O que renasce não nos fará acordar. Medo. Medo do chão que não cabe mais no coração.
Lado incerto que trará o reverso da tempestade. O sonho. O certo. O correcto.
Ou,
apenas outra visão.
Esperei-te no banco daquele jardim, com o mesmo quadro na parece, repleto de verde das árvores e amarelo da luz do sol.
E tinha tons azuis.
Pois tinha.
Sim tinha.
Tons que se reflectiam no nosso rosto; era o céu no seu esplendor.
Sorri quando te vi, porque me fizeste sentir num lugar que seria um pequeno abrigo, onde eu poderia relembrar sempre aquele dia tão apressado, mas com o futuro nos horizontes.
Toquei-te... na alma, ao mesmo tempo que te aproximavas com o teu abraço.
Cá dentro surgiu o calor que arrancou parte da minha armadura. Confortaste os sentidos no reflexo dos sinais, que nos indicavam o livro do incerto que começaríamos a escrever.
Já rasguei algumas folhas deste romance,
simplesmente porque doía quando me dedicava à sua leitura.
Hoje deixei de lado velhas histórias.
Não quero ler mais.

11 de janeiro de 2011

Caminho do afecto

Hoje desci um pouco à comum realidade, para conseguir escrever este texto sem o coração. Fazer uso fruto de qualquer razão que me tenha restado, nesta parte da alma ferida e transtornada.
Venho escrever sobre a vida, as pessoas ..
..e a união de ambas.
Difícil de me pronunciar sobre isso, porque raras são as vezes em que a vida e as pessoas se cruzam. Vivemos um pouco à parte de tudo e de todos. Até dos nossos caminhos.
Não obstante, gostaria de ter partilhado parte desses caminhos (não) cruzados com as pessoas que mais amei.

Será possível quebrar laços quase-inquebráveis em alguma altura da nossa vida?

Fui descobrindo devagar a procurar por entre as minhas lágrimas, a perdoar aquilo que não entendia. Tantas as vezes que não soube o que dizer e não tive abrigo para voltar, mas sempre destaquei um caminho para nós, como família, que se une na vida.
Hoje sei, que a idade da inocência já faz parte de passos antigos. Custou-me a descobrir o verdadeiro sabor da verdade, do vazio que me brinda com estas fases e reversos. Trago-te aqui comigo, mas isso só me faz sentir mais a liberdade que perdi ao decidir apostar noutro caminho, inverso a esta tentativa de procurar o teu abraço. Que saudades, daquele toque que me fazia sentir tão amada quanto uma cria desprotegida. Amor. Família. Que mais?
O mesmo quadro pintado de negro, nada mais faz sentido. Porque a família é Deus quem escolhe. E eu nem tão pouco sei se acredito Nele.

A tarde não podia ser mais fria, quando ouço as tuas palavras que me magoam e procuram o mais ínfimo dos meus sentimentos. Ergui uma muralha para ti, e para o titulo que impus na minha vida, apenas para ti.
Amor é tão vasto, e tão válido além do laço carnal dos enamorados.
Este laço que me prendia a ti, era de sangue, de amor paternal, de tempo que não se esgota, nos abraços que não esmorecem. Sabia bem voltar ver-te, mas o meu abraço está fechado. Não te quero ao meu lado, mesmo que retires as injúrias sentimentais que pronunciaste acerca desta que tanto te ama.
Este, é o lado negro da saudade. É o caminho que me ensinaste a não guardar.
É a vida que me ensinaste a defender.
E fizeste tudo isto, apenas pela tua capacidade de não estar.
De simplesmente ser ausente. Sentimentalmente, digo.
Peço conforto, aqui, longe do mundo e do caminho que quero percorrer.
Peço conforto e nada mais. Na voz dos que sofrem, peço sinais.
É muito tempo a desejar o tempo a teu lado.
É uma vida a desejar alento e a tentar saber quem és.
Resta a distancia entre o silencio e a voz.
Tu que julgas saber tanto de mim, senta-te cansado ao teu canto e mergulhas na insensatez das pronuncias erradas que perdeste em vão.
Não me escondo mais, nem crio mais gestos para te tocar no coração. Sou quem sou, e não serei salva pelo medo que fujas de mim.
Para que saibas, amo-te na minha essência de filha,
mas este caminho, aquele que transmite e aceita afectos.. encerrou, com data indifenida de retorno.
Não, não devias ter largado a minha mão ao sabor do vento das dificuldades.
Não é urgente perdoar. Um dia. Apenas um dia. Mais tarde. Quando (e se) o tormento passar,
Até lá, guardo-te no coração.